segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dúvidas e angústias de mãe de segunda viagem

Conforme aqui tenho partilhado, e pelo menos no meu caso pessoal, a vivência de uma gravidez do primeiro filho e do segundo são substancialmente diferentes. Aquelas dúvidas primordiais e mais básicas que se prendem com o parto, a maternidade, se o parto será o horror que muitas descrevem, se correrá tudo bem, se seremos boas mães, se conseguiremos dar de mamar, se não partiremos um braço ao bébé ao vesti-lo ou se não o deixaremos escorregar para a banheira, se aguentaremos as noites mal dormidas, etc, já não se colocam numa segunda gravidez.

Agora, que já existe a M., com a qual fiz essa primeira abordagem à maternidade e com a qual descobri resposta para todas  essas questões (apesar de, como é evidente, cada caso ser um caso), as minhas dúvidas prendem-se também muito com ela, e confesso que tenho andado muito angustiada à conta das mesmas (acho que as hormonas já andam em produção acelerada e isso facilita também uma certa... "hipersensibilidade"...).

Então as dúvidas agora são: conseguirei gerir as rotinas entre os dois de forma minimamente equilibrada e sem nenhum de nós ter vontade de abandonar o lar?
Saberei fazer com que a M. aceite o irmão e goste dele ao invés de sentir ciúmes ou querer fazer-lhe mal? Saberei perceber se ela realmente lhe fizer mal? Saberei ser justa nos conflitos que eles vierem a ter? Saberei amar os dois por igual?...
Ou com base na equidade, amores diferentes, para pessoas diferentes, mas com a mesma ordem de grandeza?

Eu sei que isto é tabu para qualquer mãe, mas a verdade é que, neste momento, amo tanto a minha filha, que tão bem conheço, com quem partilhei tantas vivências, que para mim é a bébé (sim, até aos 50, é uma bébé...) mais linda, fofa e inteligente que há no mundo, e o meu filho ainda é para mim uma incógnita, é claro que o amo, mas ainda não o conheço, ainda não vi as suas feições, ainda não senti o seu cheiro, ainda não vi as suas gracinhas, ainda não o ouvi chamar-me "mamã".
Já falei com mães e já li relatos, inclusivamente aqui pela blogosfera, em que as mães admitem estas dúvidas, que a meu ver são perfeitamente normais, e que nos primeiros tempos o primeiro filho parece ser mais "filho" do que o segundo, que ainda é um ser por descobrir. O amor é imediato, mas falta ainda toda essa base e descoberta que permitirá amá-lo com aquela intensidade com que já se ama aquele que já existia há mais tempo.

Eu acredito que se sinta isso nos primeiros tempos, e depois de facto se comece a amar cada um da sua forma, pelas suas características, cada um à sua maneira, mas confesso que me angustia muito pensar nos primeiros tempos.

E também me angustia o sofrimento pelo qual a M. vai passar, porque sei que vai, sei que no final de contas vai gostar de ter o irmão, e vai gostar dele, e que a aceitação depende muito de nós, mas ela é uma criança muito "rotinada", na vida dela todos temos papéis bem definidos e que não se podem alterar sem que isso lhe faça grande confusão, e os hábitos diários para ela são essenciais e sente-se muito desorientada quando sai da rotina.
Por exemplo, de manhã eu e o pai levamo-la à escola, à tarde sou eu que vou buscá-la, dou-lhe o lanche, e brinco com ela, à noite o pai dá o jantar (desde os enjoos do primeiro trimestre que comecei a "desmarcar-me", porque era tarefa minha), eu dou-lhe o banho e o pai lê uma história antes de dormir (também era tarefa minha, mas foi transferindo nos últimos dois meses).
Se por algum acaso, alguma destas situações se altera, temos o caldo entornado, a M. entra em verdadeira histeria! Por exemplo, no fim de semana fica possessa porque não veste a camisola da escola, e não queri dizer que queira ir, quer dizer que tem aquele hábito e quer manter. Se um dia não lhe lavo a cabeça chora porque não lhe seco o cabelo, porque faz parte do ritual antes de dormir. Se anda a fazer aerossois um mês e depois deixa de fazer, chora porque quer os "fuminhos"!...
É tudo assim, na cabecinha dela, muitas rotinas e rituais!
Por isso, tudo o que eu não puder fazer, ou por estar fisicamente impossibilitada, ou por estar a cuidar do irmão, vai gerar uma grande confusão naquela cabeça, e o meu medo é que associe esses "cortes" ao irmão e fique contra ele. Por isso, não sei se tente ir alterando as rotinas antes dele nascer, ou se tente à viva força manter as que já existem depois do nascimento.

Tal como foi com a entrada na escola, tenho uma certa esperança que ela venha a surpreender-me, e que chore baba e ranho na primeira semana e depois venha a adaptar-se à nova vida com o irmão. E que, depois da selva em que esta casa se vai tornar, tudo entre numa nova estabilidade e harmonia, como acontece em todos os lares com mais de um filho.

Mas até lá, que isto me tem tirado horas de sono, tem...

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