quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A gestão da birra e a famosa frase "o meu não faz porque eu resolvo logo com uma palmada"

Nas minhas incursões por esta blogosfera, tenho lido tanta baboseira que às vezes gostava que essas pessoas tivessem um reality show sobre as suas vidas para eu poder constatar se estão a falar a verdade...

Muitas mães referem-se às birras dos filhos de forma completamente ilusória e, a meu ver, "projectada", ou seja, aquilo que projectaram para os seus filhos e que se convencem de que é verdade.

Dizem que os filhos não fazem birra (no que eu coloco já as minhas maiores dúvidas, pois, como alguém muito sábio diz, "crianças que não fazem birra não têm alma"... é um estado super natural de afirmação, desafio dos limites e conquista da independência e autonomia, próprio da evolução de qualquer criança), ou então que, quando fazem, resolvem tudo com um par de galhetas (isto dito assim a modos que com ar de orgulho, daquele género do "comigo ninguém faz farinha").

Acho este discurso mais ou menos "normal" (não digo aceitável, mas normal, vá) nos pais, que sempre têm mais testosterona e gostam mais de ter a sensação que mandam e tal, que não são tão dotados de paciência e por muito que sejam os pais mais ligados e envolvidos do mundo, não são as mães. Não têm aquele instinto visceral de protecção e o cordão umbilical fantasma ali ainda a latejar.

Mas das mães acho no mínimo estranho. Só posso concluir que são mães pouco apoiadas, e por isso muito cansadas e a quem a paciência se esgota ao primeiro sinal de eminência de birra, ou que também têm alguns problemas de afirmação e alguma testosterona a mais, ou que andaram a fazer bullying no liceu e gostam de ser superiores aos mais fracos (e só perante estes).

Não estou com isto a querer ter algum discurso fundamentalista, que se dermos uma palmada eles ficam traumatizados para sempre e que temos sempre que conversar, etc, etc.

Mas na verdade, antes da palmada (e quando digo palmada refiro-me obviamente àquele sacudir o pó da mão, ou do rabo, não a estaladões na cara ou algo tão humilhante quanto isto, refiro-me a algo que vale mais pela simbologia, que eles entendem, do que pela força com que é aplicado), existem mil e uma formas de tentar resolver a situação, e que devemos reservar esses últimos recursos: palmada, falar mais alto, etc, para casos extremos, como o ultrapassar de limites irrazoáveis, a persistência da birra sem razão, o intensificar da mesma mau grado todos os anteriores esforços, etc.

Antes disso, há várias formas de tentar gerir e resolver: tentar perceber o que realmente querem, tentar entendê-los, escutá-los, dar-lhes atenção (por vezes é apenas isso que querem, um pouco de atenção); distraí-los do comportamento inapropriado induzindo outro (tão tipicamente feminino, a indução de um comportamento sem que o outro se aperceba, então se fazemos com os nossos maridos, porque não com os filhos??); falar em tom firme e assertivo, mas sem aumentar ou engrossar o tom de voz; e claro, ter em conta o dia que a criança teve, se dormiu bem, se comeu, se teve a nossa devida atenção, etc.

A M. obviamente faz birras e obviamente que eu não gosto que as faça, mas mal de mim se não tivesse outros artefactos para as resolver que não um par de palmadas. O desafio de educar é difícil, dá trabalho, é mais fácil passarmo-nos logo à primeira, darmos uns gritos e umas palmadas (bem, para mim isto nunca seria fácil, mas pelos vistos há muita gente para quem é), o difícil é fazê-los voltar ao estado "normal" sem qualquer tipo de violência, e tratá-los de forma adequada para que não sintam tanta necessidade de as fazer (mas não se iludam, vão sempre fazê-las, e estranho será se não fizerem). Educar é muito mais que ensinar a não fazer birras, e não devemos esquecer que se educa essencialmente pelo exemplo. A M. já diz "obrigada", porque eu agradeço sempre que ela faz algo que lhe peço, não porque a obrigo ou porque lhe dei uma palmada para ela saber dizer. Eles aprendem muito pela imitação, por isso devemos também fazer um esforço de autocrítica e vermos se o que lhes exigimos é feito por nós. A M. não é muito arrumada com os brinquedos, mas eu sei que não sou nem nunca fui um primor na arrumação, e por muito que me esforce por arrumar os brinquedos com ela e ensiná-la, ela obviamente vê muito para além disto.

Por último, saliento ainda, continuando a falar do exemplo, que a superioridade física não dura para sempre... Se a base da educação que damos aos nossos filhos se centrar na intolerância a qualquer tipo de comportamento que saia da (nossa) lógica, e no castigo do mesmo com violência, um dia que sejamos velhos e dementes e façamos coisas absurdas e dependermos deles, podem ser eles a reagir da forma como foram ensinados...

Em tudo devemos ter sempre esta noção, eles não são bébés dependentes de nós para sempre, nem nós seremos as pessoas jovens e com a vida toda nas mãos e pela frente para o resto da vida.

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