quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Considerações sobre a amamentação

Quando estava a escrever o post anterior dei-me conta que dediquei imenso espaço ao tema da amamentação, e que tal merecia um post só para si, e daí que, pegando num dos parágrafos do post anterior, deixo aqui o que realmente penso sobre este tema que parece despoletar tanta polémica.

"Falámos muito da amamentação, nomeadamente o quão é importante para o bébé, o seu sistema imunológico, a prevenção de futuras alergias, etc, e que não devemos desistir, e tentar vencer as contraditoriedades, porque elas vão aparecer na certa, mas não desistir."

Sei que muitas pensam nisto como um discurso "fundamentalista" e que o leite materno e o de fórmula vai dar ao mesmo, e que nós também quase não mamámos e cá estamos, etc.

Mas temos que ver as coisas como elas são.

A minha geração (nascida no final dos anos 70, pronto, e chega!), nasceu numa época de afirmação e libertação femininas, em que, a meu ver, alguns exageros e confusões se fizeram, pois obviamente que uma mulher tem liberdade de escolha sobre o seu corpo e aquilo que ao mesmo diz respeito, mas também tem a responsabilidade pelo filho que concebeu, e o bem estar do mesmo, e, já diz Sartre, a liberdade implica responsabilidade.
Como tal, acho que não nos podemos demitir das responsabilidades que assumimos ao sermos mães só porque somos "livres", senão esse raciocínio leva-nos a perigosos e discutíveis extremos.

Naquela época e contexto era quase considerado uma "blasfémia" uma mulher andar ali a "estragar o peito" para dar de mamar à criancinha, e, além disso, as mães quase nem licença de maternidade tinham, e os próprios médicos quase que desaconselhavam a prática, por isso, quase nenhum de nós, desta geração de 70 e 80, foi amamentado muito mais do que 2 ou 3 meses, se tanto.

E, de facto, aqui estamos.

Mas eu por exemplo sempre tive e tenho imensas alergias, as quais não sei se teria tido se tivesse sido amamentada mais tempo, o meu irmão também tem, o meu marido também, conheço raras pessoas do círculo da minha geração que não tenha. Terá alguma coisa a ver? Talvez!

Claro que não concordo com aquela ideia também errada e quase ancestral da culpa feminina, da mulher eternamente a pagar os pecados de Eva e a expiá-los através do eterno sacrifício pelos outros, e que por isso deve aguentar sossegadinha, cumprir a sua função de mulher e mãe, custe o que custar.

Nada disso.

Acho que mastites, mamilos em completa e incurável ferida, mães a chorar cada vez que vão dar de mamar durante meses, infecções, etc, são limites mais que aceitáveis para a mulher resolver parar e preservar-se, a si e ao bébé (para quem estas situações também não devem ser muito agradáveis, quanto mais não seja porque o mal estar da mãe transmite-se sempre ao bébé). Nada na maternidade deve ser "a todo o custo".

Mas também não devemos cair no extremo oposto. Nada na maternidade também vem "gratuito" ou isento de custo, sacrifício, a vida muda em todos os aspectos e o nosso bem estar físico é posto em causa em muitas e variadas situações, e não temos outro remédio senão aceitar (se o nosso bébé chorar toda a noite, não temos remédio senão deixar de dormir nessa noite).

Sei por experiência própria que apetece desistir muitas vezes, por vários motivos.
No meu caso, os mamilos fissuraram e doía bastante dar de mamar, nos primeiros meses, depois há alturas em que parece que adormecem na mama, depois outras em que parece que não lhes apetece, depois dormem muito melhor quando bebem biberão com suplemento do que com a mama, depois estamos na rua e dá muito mais jeito dar um biberão do que estar ali com manobras de nos taparmos e dar de mamar em pleno shopping (não é tão prático como dizem, a meu ver, preparar um biberão e dá-lo onde quer que seja é muito mais fácil), depois a mama só nós é que temos e o biberão qualquer um pode dar (esta parte é muuuuito importante nas noites, no poder sair umas horas, etc, quando damos de mamar, não é muito fácil delegar...).

Mas pensei sempre acima de tudo no bem estar da M., que eram contraditoriedades facilmente ultrapassáveis. E por isso dei de mamar até aos seus 8 meses, e só fui deixando de dar porque aí ela já comia sopas, com carne e peixe e tudo, eu chegava muito tarde do trabalho nessa fase em concreto e ela ia logo jantar, e às tantas não conseguia "encaixar" muito bem como ainda a pôr a mamar, a seguir a comer sopa (belherque) (apesar de ainda ter feito isso umas vezes). Mas nunca me "secou" ou "deixei de ter", nem sei se isso é realmente possível, a minha experiência é que é uma fonte natural inesgotável que, se fôr sempre estimulada, vai sempre funcionando.
Confesso que agora com o S. penso que não correrá tão bem, pois o tempo, a calma e a tranquilidade não serão os mesmos, devido à reacção que a M. pode ter com a vinda do irmão, e sei que isso vai gerar uma grande instabilidade, ou estou preparada para isso...  Talvez venha a desistir muito mais cedo, mas, até agora, o que sei é que, se quisermos, conseguimos vencer as adversidades e podemos dar de mamar durante muuuito tempo. E acho que vale a pena fazer esse "investimento pessoal" pelos nossos filhos, se, lá está, tal não implicar nenhum sacrifício desmedido para nós, pois também não fizémos mal a ninguém!


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