sábado, 10 de agosto de 2013

Instinto de mãe

Já várias vezes cheguei a esta conclusão, que não há nada como o nosso instinto para nos orientar numa situação de “crise” (crise no sentido de mudança, não de situação negativa).
Por muito que os livros ajudem, apontem um caminho, não há nada como auscultarmo-nos e aos nossos filhos, e tomar as nossas decisões.

Senti isto não logo após a M. nascer, mas poucos meses depois. Lia avidamente o Brazelton, o Mário Cordeiro, etc, mas, na verdade, com o tempo fui descobrindo que ninguém conhece os nossos filhos melhor do que nós, e ninguém melhor do que nós pode definir um caminho e uma solução para a situação.
Por exemplo, nos livros fala-se muito do choro do bébé, e todos dão mais ou menos sete ou oito motivos: fome, sede, fralda suja, blá blá blá blá. Raramente o sono é apontado como uma causa, ou então vem em 8º lugar, quando não é nenhuma das outras. Conclusão, quando a M. chorava, lá ia biberonzinho ou maminha goela abaixo, ou as duas coisas, ou lá ia cheirar o rabo (figurinha decadente típica de qualquer mamã!), ou ver as outras razões que os livros apontavam, mas na verdade a M. chorava essencialmente de sono!
Os livros também referiam uns intervalos horários em que eles devem dormir e em que não devem, e estratégias para saberem quando é noite e dormirem (por exemplo, não os deixar dormir de dia!! O que comigo só resultaria num mês de noites mal passadas, exactamente pela grande descompensação que traria uma violência dessas!)

Por vezes saía com ela, andava o dia todo na rua, para passar o tempo e o dia sem ela dormir (por causa dessa teoria peregrina), e ela coitadinha, chorava chorava, de pura sobre-estimulação, estávamos as duas exaustas e eu sem perceber porquê.

Até que arrumei os livros e comecei a lê-la, a senti-la, a compreendê-la. Aqueles olhinhos a semicerrar, as mãozinhas a coçar a cara, era isso, era soninho! Mesmo que estivesse acordada apenas há 2 ou 3 horas. E de facto, quando percebi isso, tudo entrou nos eixos, eram sestas intermináveis, noites mais compridas, finalmente entendemo-nos!

Como este exemplo já houve vários, em que os livros, ou o A, B ou C dizem “ah de certeza que é isto, ou aquilo”, e nós percebemos nitidamente que não é. Isso vai-se apurando com o tempo. E claro que não é sempre infalível, e que quem palpita ou os livros por vezes têm a sua razão, e por isso devemos sempre ter nos outros um apoio, mas de facto, seguir a nossa ideia costuma ser o caminho mais acertado. Se formos pessoas normais, equilibradas, e informadas, entenda-se! Porque também não sou nada apologista da máxima “a mãe é que sabe e decide” e com isso permitir-se crianças de meses comerem MacDonald’s, ou marisco, ou chocolate, ou deitarem-se à meia noite, ou não se vacinarem, ou frequentar locais com fumo, ou andarem ao frio, ou sujeitos a perigos! A mãe é que sabe, se a mãe souber mesmo!

Bem, isto tudo para dizer que, e não querendo já deitar foguetes antes da hora, esta questão da M. estar com “medo”/manha/fita/mimo de ficar sozinha no quarto e eu ter que estar lá todos os dias cerca de uma hora com ela estava mesmo a começar a afectar-me! Quanto mais não fosse, porque daqui a uns meses isso vai ser totalmente impossível! E convem deixar isso claro, já! Para que não haja associações de ideias!

E comecei a pensar na raiz deste problema. Não sou adivinha, nem ela ainda se explica na íntegra, mas presumi que esta insegurança tem a ver comigo, com alguma diferença que ela nota em mim, era um teste que me queria fazer, e ao mesmo tempo talvez existisse ali um real medo de estar sozinha, ou de ter que “ter o trabalho” de estar na cama sem sono e ter que se adormecer a si pópria. Eu lembro-me que em criança detestava essa sensação (e ainda hoje; sempre gostei de me deitar já com muito sono).
Então o que eu tinha que fazer era demonstrar-lhe que estou com ela, independentemente de tudo, mas não lá à noite, mas enquanto o dia o permitir, brincando com ela, dando-lhe toda a atenção (pois com os enjoos quando chegava a casa atirava-me para o sofá completamente exausta), fazer tudo com tempo e calma, contar-lhe as histórias antes de ir dormir, e há dois dias tenho arriscado e digo sempre, antes de contar as histórias, que a seguir a M. vai fazer ó ó, o que é muito bom, e que ela sabe bem fazer sozinha, e que tem lá os peluchinhos para a protegerem, e que eu estou logo ali ao lado, e pode chamar-me se precisar.

Qual não foi o meu espanto quando ontem, depois de acabar as histórias, digo apenas que vou sair do quarto, e ela vai dormir, ao que ela responde: “É!”,  e eu levanto-me e digo, ainda estupefacta: “Até amanhã!” e ela: “Manhã!” e saí do quarto. O coração aos pulos pelo corredor fora à espera de ouvir a sirene do choro, mas... nada!

Bem, durante a madrugada já não foi bem assim, mas, devagarinho vai-se recuperando a normalidade (espero!).

Só depois resolvi ler umas coisas sobre o assunto e parece que o que eu resolvi fazer foi o mais acertado: temos que insistir pelo processo de autonomização e independência deles, mesmo que por vezes pareça mais fácil adormecê-los ao colo, moer a comida, vesti-los até aos 10 anos, cabe-nos , às mães e aos pais, facultarmos ferramentas para eles saberem ser autónomos, pensarem e agirem por si. Mas claro, sem radicalismos, sem choros de desespero até aos vómitos (como tantas teorias apregoam), dando-lhes a certeza da nossa dedicação e de que estamos lá sempre na rectaguarda, que não estão sozinhos. Acho que, instintivamente, foi isso que tentei fazer. Mostrar-lhe que ela é capaz sozinha (pois se foi até agora!!), mas que eu estou ali se aparecer algum mosntro esquisito lá pelo quarto para lhe dar um safanão.

Vamos ver como corre o resto da semana.


Se calhar depois deste lindo discurso, hoje fico lá duas horas! Espero que não! Lagarto! Lagarto! Lagarto!

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