sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Surpresas

Mais uma semana acaba...

Correm agora as semanas, umas atrás das outras, só de pensar que já estou a trabalhar há praticamente tanto tempo como o que estive de licença em casa, fico completamente estupefacta! Porque parece que a unidade de tempo só pode ser diferente para ser o mesmo tempo!

Quando estive em casa o tempo passava muito mais devagar, acima de tudo porque também vivemos mais horas do dia (=estamos muito tempo acordadas assim pela madrugada inteira, enquanto o mundo dorme... é uma sensação muito estranha, perguntava-me a mim própria se outras mães estariam naquele preciso momento a amamentar as suas crias, se estavam a olhar para os maridos a dormir descansadinhos com ganas de os abanar, e enviava para o universo energias de solidariedade para com todas as que estivessem naquele momento na mesma situação). E as horas são assim elásticas, estiiiiicam-se, porque o tempo tem que ser suave, calmo, porque os ritmos e os horários deixam de existir, ou passa a existir apenas aquele que o bébé dita.

Os primeiros tempos não foram fáceis. Nunca tinha tido qualquer bébé a meu cargo, a primeira fralda que mudei foi à da minha filha, mas estranhamente nem era que tivesse dúvidas ou inseguranças, ou que ficasse aflita sem saber o que lhe fazer. Aflição não é bem o termo. Acho que algo se desenvolve em nós durante a gravidez e atinge o seu auge quando os vemos cá fora, talvez o chamado instinto maternal, que é como se o nosso bébé, que não é igual a mais nenhum outro, viesse com um manual de instruções especialmente para nós. Mas claro que nos primeiros tempos ainda temos muito que ler nos sinais deles, ainda temos muito que afinar na nossa comunicação, e o cansaço acumulado, os desconfortos do pós parto, a sensação de que deixamos de existir, de que somos apenas fábrica de leite, assistente a todo o tempo e serviço, toldam-nos o raciocínio.

A Luazinha não dormia nada de dia, nos primeiros meses. As pessoas perguntam muito pelas noites, mas esquecem a parte dos dias. De noite não era má de todo, mas também não era nenhuma pêra doce, acordava uma ou duas vezes, e demorava uma hora a comer e outra a adormecer, lá andava eu por toda a casa, de um lado para o outro, passo à frente, passo atrás, até ela ir fechando os olhinhos, e lá voltávamos a pegar no sono. Depois durante o dia só chorava, chorava, nunca gostou muito de estar na espreguiçadeira, exigia colo a todo o tempo, eu nem conseguia comer, nem tomar banho, nem lavar os dentes, eu vivia exlcusivamente com ela ao colo, ou então tentava pô-la na espreguiçadeira e distraí-la, dançava e cantava para ela, mas enfim, depois de uma hora a cantar os passarinhos a bailar, começava a faltar-me a energia. Olhava para mim ao espelho, de cabelo desgrenhado, olheiras até ao fundo do crânio, roupão invernoso e só desejava poder tomar um banho que pudesse demorar mais de cinco minutos, poder vestir-me, poder sentar-me a comer, enfim, coisas básicas!! Dava por mim secretamente a contar os dias que faltavam para ir trabalhar, tinha inveja do Sunshine quando ele saía para ir trabalhar, depois de uma noite descansadinha, fresquinho que nem uma alface, para um dia sem choros, sem fraldas, com adultos a falar como tal. Tinha saudades dessa rotina, de ter motivo para me vestir, para me arranjar.

Depois fui estreitando o meu laço com ela, fui começando a percebê-la melhor, e a perceber que por vezes o seu choro constante e o facto de não dormir era exactamente porque tinha sono e precisava de dormir!! E lá íamos as duas para o quartinho, sentava-me com ela ao colo, olhava para ela a acalmar, tão linda, tão perfeita, pensava na pessoa que ela vai ser, no que desejo e espero para ela, tentava assegurar-lhe que a protegeria de todos os males, e ela lá caía no soninho.

A partir aí dos 3 meses começou a ser uma dorminhoca! Dormia umas sete horas de noite (nem sempre, mas acontecia), acordava, brincávamos um bocado, ou saíamos, dormia umas quatro horas, mais um bocado de colo e brincadeira, almoçava e um sono longo novamente, aí comecei a sentir-me tão afeiçoada a ela, ao nosso ritmo, que me angustiava pensar na nossa separação, e, muito embora se mantivessem as saudades da rotina e de ir para o trabalho, via-a tão bébézinha, tão pequenina, apertava-se-me o coração só de pensar que ia estar sem ela durante o dia!...

E pronto, no fim de contas, lá se passaram os quatro meses de licença e lá regressei ao trabalho!

E agora já se passaram mais outros tantos!

E ontem surpreendeu-me, fez-me sentir aquelas ondas de felicidade que de vez em quando nos assorbabam, uma felicidade avassaladora, estávamos a dar-lhe o jantar e eu estava a contar que ela se tinha engasgado, e para exemplificar fi-lo de forma exagerada e apalhaçada, agarrada ao pescoço como se estivesse a sufocar (fazia eu este teatrinho para o Sunshine), e ela desata a rir à gargalhada, mas umas gargalhadas de gozo, irónicas, parecia ela que percebia já o que é o humor, que percebia que a mãe estava a ser gozona, a fazer palhaçadas! Senti-me tão feliz, tão realizada! É inexplicável a sensação de orgulho, prazer, que nos dá quando eles dão mais um passinho!

Na terça feira temos pediatra! Vamos lá a ver os progressos!

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