terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O mini bullying

Estava agora à conversa com a A., minha amiga, cujo filho P. anda na turminha da M. na escola (é "mais ou menos" o namoradinho dela, aqui só para nós, que o pai não nos ouve!), porque o P. tem dito todos os dias que não quer ir para a escola porque outro menino lhe bate.

Isto acontece reiteradamente desde o início do ano lectivo.

A minha M. já me falou várias vezes nisso, que o A. bate no P., portanto, deve ser mesmo verdade. Os meus amigos, pais do P., já falaram com a educadora, inclusivamente, mas a situação persiste.

A M., há cerca de um mês, apareceu com uma grande nódoa negra na cara, que, para ter aquela dimensão e cor (e duração), ou alguém lhe deu com um objecto duro, ou caiu numa quina qualquer, mas ela sempre disse que foi o T. que lhe bateu. T. este que também já se queixou à mãe que apanhava do tal A., que bate no P..

Ou seja, o A. deve ser o chefe da matilha, o macho alfa lá do sítio, dá nos outros, e alguns ainda dão nos que estão abaixo na sua hierarquia, neste caso, as meninas.

A M. ficou muito triste com isto, pois fala ainda hoje repetidas vezes nesse episódio, aponta para a cara, diz que lhe doi, e que foi o T.. E noto que desde então vai sempre mais renitente para a escola. As educadoras disseram-me que só agora é que ela começou a refilar quando lhe tiram os brinquedos, o que é uma coisa positiva. É sim senhor. Mas eu confesso que fiquei algo triste, pois, a contrario, o que retiro desta informação é que, até à data, toda a gente tirava os brinquedos da M. e ela ficava-se.

Comentei com os meus pais se não era suposto elas, educadoras, intervirem, e defenderem os mais fracos, ou mediar os conflitos, explicar que agora estava ela a brincar, podiam brincar com outra coisa, e já trocavam, sei lá, qualquer coisa. E os meus pais disseram que não, que elas devem colocar-se à margem para que cada um aprenda a defender-se.

Eu entendo isto. Mas não concordo. Isso é a chamada lei da selva. E nós, humanos, vivemos, supostamente, em sociedade, civilizada, pelo menos, deveria ser esse o nosso objectivo.

Nunca aceitei nem entendi esta argumentação. Como as que as mães utilizam relativamente aos irmãos, quando castigam os dois porque há-de ter sido algum deles, e depois já foi o outro, e assim tudo se vai compensando com o tempo.

Posso vir a morrer pela boca, espero que não, mas, não sei se é da minha formação (jurídica, pois sou advogada de profissão), ou, por outra, se enveredei pelo Direito exactamente porque sempre pugnei pela Justiça, mas acho que, se vivemos numa sociedade em que somos regulados por alguém, os conflitos devem ser dirimidos, mediados, devem ser encontradas soluções, acordos, ou, na sua ausência, deve ser apurada a verdade e punido o responsável por cada situação que provoque danos a alguém.

Ou seja, se é o mais velho que faz asneira, os pais devem dar-se ao trabalho de averiguar quem foi e castigá-lo apenas a ele. Castigar o mais novo também, de forma aleatória, é uma profunda injustiça que só pode gerar neste sentimento de revolta e no outro uma quase impunidade. E a situação inversa também. Se foi o mais novo, deve ser este apenas o castigado. Claro, que se um fez por alguma provocação do outro, também isso deve ser avaliado e escalpelizado,e devidamente recriminado.

Acredito que dê trabalho, mas só assim criaremos pessoas justas, que saberão viver e defender uma sociedade justa. Com um sistema com regras e sanções para o seu incumprimento.

Isto para dizer que entendo que as educadoras, por um lado, deixem que as crianças tentem resolver os seus próprios conflitos, criem as próprias regras, e desenvolvam a autodefesa, mas, enfim, estamos a falar de crianças de 2, 3 anos. Ainda não têm assim tanto discernimento, e obviamente funciona a lei do mais forte.

Fiquei triste por perceber que, durante 3 meses, a M. não podia brincar, porque vinha alguém tirar-lhe os brinquedos, ela acanhava-se e ninguém intervinha. Não por ser ela a minha filha, pois tudo farei para que os meus filhos também não façam isto aos outros, e isso passa por tentar explicar que cada um pode brincar à vez, ou podem brincar vários com o mesmo brinquedo, etc. Acho que isto não é uma utopia. Acho que isto são as bases e alicerces de uma vida em sociedade.

O adulto que tem a responsabilidade de ter crianças à sua guarda não pode demitir-se dessa responsabilidade, e tem que intervir em situações injustas ou abusivas, e usar da sua autoridade, porque o adulto, sim, tem essa autoridade, para fazer de juiz naquele conflito, e resolvê-lo.

Claro que devem ser dadas as ferramentas a todas as crianças para que saibam defender-se, nomeadamente não as colocar em situações de "menoridade" de forma consciente (por exemplo, que andem sempre bem lavadinhos, vestidos, arrumados, que correspondam dentro do possível aos padrões da normalidade no que respeita à forma física, etc, para não saltarem à vista características negativas que possam colocar a criança na incidência do bullee, e tentar incutir-lhes a coragem de responder, de enfrentar, etc), mas deve existir um sistema de regulação em que o adulto é a parte conciliadora fundamental.

Bem, quero salientar que adoro as educadoras da M., porque no caso dela, como é menina, isto são apenas pormenores, acho que os rapazes, sendo mais tribais, físicos, etc, pelo menos nesta idade, são os que mais sofrem este tipo de "pressões", e a M. como não é muito sociável acaba por ter muita atenção das educadoras, e desde que anda na escola, está muito mais desenvolta, nomeadamente na fala (noto mesmo uma graaande evolução), e até mesmo na gestão (autogestão, mesmo), das birras. Por isso este post não se trata nem pensar de uma queixa do colégio, que até agora me tem parecido muito bom, mas de uma reflexão sobre o bullying em modo mini e como eu acho que poderia ser contornado, na tenra idade.

E vocês? O que acham?

Deve o adulto intervir? Ou deixá-los à sua sorte? Quer dizer, que resolvam as coisas à sua própria maneira?
Os vossos filhos já tiveram alguma experiência destas?
E quando o nosso filho é o próprio bullee? O que será melhor fazer?


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