domingo, 15 de janeiro de 2012

A Magia da Amamentação

Na quinta feira passada fui à GO (para quem não sabe- Ginecologista Obstreta- vou tentar começar a escrever de acordo com a "ortografia do século XXI"...), e entre outros detalhes da consulta que por motivos óbvios não vale a pena narrar, conversámos sobre a amamentação. Mais precisamente, eu expus-lhe as minhas angústias: o facto de ainda ter leite mas, de há umas duas semanas para cá, a Luazinha não querer saber dele para nada... Snif..

Quero dizer, isto é um ciclo vicioso. Por um lado, ao contrário do que eu pensava, uma vez que não sou muito abonada e uma pessoa associa sempre uma mãe "leiteira" assim a um grande par de seios fartos com ar de poder conter lá dentro no mínimo 1 litro cada um, e ainda porque no início, essa época distante que a Luazinha era uma bébé com "dificuldades em aumentar o peso" (isto só no centro de saúde, porque na pediatra que a segue, por sinal também foi a minha, estava tudo bem e no S. Francisco Xavier onde tive que ir uma vez com ela à urgência também... enfim... critérios diferentes, abordagens diferentes sobretudo...), motivo pelo qual, ao seu 10º dia, começou a também a beber suplemento.

Quando vi o amor dela ao biberão, pensei que em breve teria que arrumar os meus próprios biberãozinhos, pois no curso de preparação para o parto levámos uma enooooorme lavagem cerebral para nunca desistir de dar de mamar, e para não "cedermos" ao demoníaco biberão, por muito fácil e tentador que parecesse, porque depois eles habituam-se às facilidades e nada de quererem a mama. Pois bem, a minha querida filha nunca perdeu o amor à mama da mãe, mesmo de tamanho modesto (muito embora nunca as tenha visto tão compostas como nesta altura) ela sempre gostou muito de mamar, claro que também não dizia que não a um biberão bem aviado, mas enfim, ela tem a quem sair, pois se a mãe é capaz de jantar em casa e voltar a jantar fora com uns amigos se fôr preciso, ela também foi capaz de beber as quantidades de leite que nem vou aqui quantificar...

Depois houve muitas fases de preserverança e persistência, desde o início horrível em que os mamilos pareciam querer descarnar até à fase em que finalmente adquirem uma pele de crocodilo insensível às gengivas mais agrestes, passando por fases em que de facto ela parecia pegar e largar a mama, como se ainda avaliasse se lhe apetecia aquilo ou não, e claro que a minha vontade era dar-lhe o biberão e pronto, sobretudo de madrugada, ali com um olho fechado e outro aberto, madrugada após madrugada, porque preferia que ela bebesse pelo menos em primeiro lugar do meu leite, cheio de "bichinhos bons" para a protegerem. Mas nunca desisti. Nem que ela pegasse e largasse vinte vezes, sempre havia de beber alguma coisa, e depois essa fase passava e lá vinha outra de alegre sinergia entre ela e as mamas novamente. E assim se passaram os 2 meses, 3 (que era mais ou menos o que eu pensava que conseguiria...), 4.. aos 4 voltei ao trabalho, pensei que aí é que fosse acabar, sobretudo porque não "aproveito" o horário reduzido para o efeito, mas lá dava de manhã, quando chegava, à noite, e por vezes de madrugada, lá se ia mantendo a produção, apesar de ter logo sentido que nos primeiros dias saía do trabalho com dores e a sensação que tinha dois balões que iam rebentar, e depois essa sensação foi atenuando... o corpo humano é incrivelmente inteligente, aliás, a natureza no geral... o cérebro começou a perceber que as necessidades agora era menores, portanto, baixou a produção.

Aí começam as sensações de culpa típicas de mãe... se ficava a trabalhar, sentia-me culpada porque não estava com ela, porque já não ia mamar daquela vez... Mas quando saía sentia-me culpada porque ainda tinha trabalho para fazer... enfim, mas já percebi que esse dilema acompanha uma mãe para a vida, não se relacionando só directamente com a amamentação..

E os meses passaram, 5, 6... e ela lá ia, ainda assim, continuando a mamar..

Mas claro que, com a introdução logo aos 4 meses das sopas e fruta, e aos 6 também ao jantar, reduziu o número de vezes em que era necessário ela mamar...

Agora aos 7 começou a rejeitar... snif.. snif.. é um quadro tão triste, ver a nossa bébé, aquela que poucas horas depois do nascimento já estava a abocanhar com sofreguidão o nosso seio, aquela que no início até temíamos quando se aproximava para mamar porque já sabíamos o quanto ia doer, aquela com quem depois e durante meses estabelecemos aquela ligação que só as mães conseguem, a troca de olhares, a forma como comunicamos e estreitamos o nosso laço enquanto decorre aquele momento, essa mesmo, a afastar-se do peito e a chorar, como quem diz: opá... isso nãããão!!!...

E pronto, agora, aos 7 meses e meio, a GO sentencia: Acabou! Se ela não quer faz ela bem! A mama já fez o seu papel!
Depois de tantas lavagens cerebrais que levamos no início para não desistir, agora parece que é o contrário, que o universo nos grita para desistirmos, porque agora já não é preciso...
É  o curso natural da vida... eles crescem e autonomizam-se... e ainda bem... mas.... não deixa de dar uma certa nostalgia...

É como se, durante o tempo em que eles dependem totalmente de nós, por vezes nos sintamos sufocadas, a precisar de tempo para nós, sem bébé e dependência por perto (mais no início dos inícios), mas depois à medida que eles se desvinculam aos poucos, e nos deixam esse espaço para voltarmos a respirar, também sentimos essa falta, essa nostalgia.

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